sábado, 11 de julho de 2009

POR QUE VOCÊ NÃO DEVE DOAR AO CRIANÇA ESPERANÇA?

"Sempre que vejo a campanha e a arrecadação gigantescas do Criança Esperança, me vem logo o pensamento: Vai faltar criança..." (Millôr Fernandes)

Após uma noite de chuva tempestuosa vários bairros acordam debaixo d'água. O prefeito da cidade declara estado de calamidade pública, os telejornais não abordam outro assunto a não ser, como moradores humildes de barracos e casas de taipa habitando regiões periféricas perderam tudo durante a enchente. Imagens de mulheres chorando aparecem na televisão para a comoção geral da nação. De repente o jornalista, em uma pausa estratégica para fingir compartilhar o mesmo sentimento que o telespectador anuncia como é possível fazer doações...

O lugar-comum aponta uma fatalidade, um ponto cego diante do problema. Sempre que há um desastre no Brasil, os telejornais festejam o "espírito fraternal" do povo por doar aquilo que muitas vezes nem possuem para os necessitados, contudo não se vê esse empenho partindo das próprias emissoras, ou seja, grandes empresas (incluindo seus donos), artistas
famosos (como as garotas frutas, por exemplo), e os donos das grandes redes de televisão retirando dinheiro dos próprios bolsos para colaborar com a campanha. O que parece ser um comentário, ingênuo e sem fundamento ganha veracidade diante de alguns dados estatísticos.

O valor do salário mínimo é 465 reais. Gugu recebeu da Record uma proposta para abandonar o SBT de 3 milhões mensais. Xuxa Meneghel recebe 2 milhões. A apresentadora Eliana fatura 4 milhões de dólares por mês através de produtos que levam o seu nome. Um senador embolsa 102, 3 mil reais por mês. Um cidadão comum paga em imposto 4.800 reais por ano. Observando novamente o valor do salário mínimo percebe-se a ironia por trás dos números apresentados. Após depositar nos cofres públicos tamanha quantia, a população recebe a contra partida um serviço de saúde que beira o caos e um sistema educacional que desinforma mais que informa.

Se o governo recebe através de impostos 4.800 reais de cada cidadão, por que não consegue devolvê-lo com obras e melhorias infraestruturais? E além do mais, por que se precisa doar dinheiro, roupas, comida..., fazer doações a ONGs e entidades beneficentes? E, talvez a pergunta mais capciosa, por que quem arca com a responsabilidade é uma população que paga tamanha carga triburária? Porque os grandes astros e estrelas, políticos e essas pessoas que formam a elite nacional abrem mão de seus patrimônios, mas a população sim? Para onde vai o dinheiro pago em impostos?

Levando em consideração que a saúde e a educação foram citados acima, vamos a outros dados: um professor na rede pública de ensino recebe 950 reais; médico pelo SUS, 2,50 por consulta. A disparidade salarial traz uma lógica irrefutável, para que doar ao Criança Esperança? Seria mais prudente cobrar as autoridades responsáveis para investir todo o dinheiro suado que o brasileiro paga em impostos? Exigir melhores salários para os profissionais que prestam serviços fundamentais como educação e saúde? Do que ver um grupo seleto de pessoas que não contribui em nada receber milionárias quantias? Xuxa, Gugu, Eliana... possuem acesso aos melhores hospitais e seus familiares frequentam as melhores escolas, acham realmente que eles estão preocupados com o que acontece na rede pública de ensino ou nos hospitais conveniados ao SUS?

Mas, existe algo sinistro em toda essa história. Algumas pessoas fazem doações por outros motivos. Talvez, elas queiram parecer justas. A falsa moral escondida nessas atitudes está em bandarmos em bons pulmões: "Nós doamos, somos bons, eles não!" ou, possivelmente, "Nós passaremos pelas portas do céu, eles arderam no fogo do inferno!", o consolo póstumo gera a acomodação. Alimenta a alma e empobrece a nação. Transforma pessoas comuns em santos à espera da beatificação. Doar é bom, melhor seria não fazê-lo, pois teríamos menos desculpas e mais atitude.

Fontes citadas retiradas da internet.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

FALANDO UM POUCO SOBRE O CAPITALISMO

O capitalismo é um sistema desigual por natureza, pois transforma o mundo em um imperativo darwinista: os mais fortes sobrevivem; fracos pereceram. Ao afirmar isso, muitos balançaram suas cabeças em concordância, no entanto poucos conseguem estender o pensamento para conclusões mais óbvias, porém não tão claras. Por ser um sistema desigual, o capitalismo é antônimo de "democracia", "ONU", "Criança Esperança", "Ajuda ao próximo"..., só para citar palavras e expressões que costumam encher a boca dos falsos pobres em épocas natalinas. Não há esmola que alivie a fome, pois a voracidade do capital exige a pobreza sacramentada, não podemos, nem no delírio mais insano, imaginar uma sociedade capitalista igualitária. Essa realidade discursiva é conclamada pelos burgueses, para pôr uma cortina na mente dos mais necessitados. Pregar falsas esperanças, por sinal, é lugar-comum em uma sociedade capitalista, pois somente assim, a burguesia encimenta sua posição.
Portanto, que a pergunta feita no filme Matrix seja um convite à reflexão: "Você já teve um sonho que achou que fosse real?"; o capitalismo-democrático é o sonho-realidade da nossa sociedade. O despertar ocorrerá de maneira semelhante ao da personagem Neo, quando perceber sermos alimento para um sistema falido e decadente.