quarta-feira, 13 de maio de 2009

POR QUE PRECISAMOS DE SUPER-HERÓIS?

Acabo de assistir ao filme Push (traduzido como Heróis), que conta a história de um grupo de pessoas com poderes que são perseguidos por uma agência que deseja utilizar suas habilidades para fins não muito ortodoxos. Não há novidade alguma no enredo, contudo um fenômeno chama a atenção.

Da mesma forma que na clínica psicanalítica a repetição é um sinal do inconsciente, a avalanche de produções cinematográficas envolvendo super-heróis é um sinal de que algo (inconsciente) ocorre. No filme Superman Returns, apesar do fiasco de bilheteria, a pergunta que é feita nos serve de suporte: "Por que precisamos do Superman?", ou, no nosso caso, "Por que precisamos de Super-heróis"?

A tradição nos faz olhar para o passado. Quando Capitão América foi criado o mundo contemplava a arssenção do nazismo. Não era coincidência que seu arquiinimigo, o caveira vermelha, fosse nazista. O povo americano viu o manto negro do nazismo se estender por todo o mundo assim que Hilter ocupo a França. Sentindo-se solitário e abandonado eles conclamaram um salvador, um héroi. Foi então que em 1941, Joe Simon junto com Jack Kirby, criaram a figura de um super-herói que não apenas defendesse seu país, mas que carregasse no próprio corpo a bandeira dos Estados Unidos, daí nasceu o Capitão América.

Outro fato ilustrativo envolve a criação do Super-Homem. O homem de aço nasce 1938, publicado na revista ATCION COMIC número 1. Atrelado a isso temos uma série de fatores históricos: a crise das bolsas de valores em 1929 que jogou o país em uma recessão, nos anos posteriores o país ergue-se e começa disputar como uma das grandes potências, mas é assolado por uma 2ª grande guerra, e essa ameaça faz surgir a imagem de alguém SUPER. Alguém que viera de um planeta destruído e, como os Estados Unidos que viu sua grande nação sofrer com a 1ª guerra e com a crise de 29, portanto, precisavam de uma esperança, de um ícone, algo que fosse mais rápido que um trem, que pudesse saltar prédios, que os inimigos tremessem só de ouvir seu nome, eis que surge o Super-Homem, um homem indestrutível, como o seu povo desejava que assim o fosse seu próprio país.

Os super-heróis são a representação de nossas defesas, eles surgem, ou melhor, nós os criamos quando nos sentimos aflitos, são elementos simbólicos (criados pelo inconsciente) para suportar a finitude humana ou objetal. É um processo natual pelo qual todos temos que passar e que Freud ilustrou muito bem com o jogo do Fort-Da. O pai da psicanálise notou que na ausência de sua mãe, seu neto chorava compulsivamente, mas, determinado dia, após a saída da mãe, nada se ouviu. Intrigado Freud foi ver seu neto e o surpreendeu brincando com um carreteu que jogava e puxava para si, dizendo: "Fort (quando lançava) e Da (quando puxava de volta), em português poderíamos traduzir como: "Desapareceu-apareceu". Freud chegou a conclusão que o garoto simbolizara a ausência da mãe através do jogo e aprenderá a lidar com ela. Por isso, a partir de 2006, a efervecência de filmes de super-heróis representaria um novo clamor. A ilusão de que alguém SUPER poderá nos ajudar (o Chapolin Colorado?) em momentos de desespero.

Não é preciso procurar fatos para justificar isso, tendo em vista que são evidentes. Desde o 11 de setembro, a frase do ex-presidente George W(AR) Bush ecoa, como o sussurro de uma assombração nos ouvidos de todos: "Nós não estamos mais seguros...". Hoje, a crise financeira que perpassa as grandes potências e deixa amendrotados os países em desenvolvimento (e subdesenvolvidos), é o grande vilão. Talvez por isso, só esse ano tivemos o filme de Dragon Ball, X-Men: A origem de Wolverine, O exterminador do futuro - A salvação e teremos os lançamentos de G.I. Joe (Comandos em Ação), Transformers II, o quinto filme de Harry Potter... apenas para ilustrar o que dissemos.

Contudo, semelhante aos heróis de capa e cueca por cima da calça, que nunca morrem e concomitantemente não derrotam seus arquiinimigos, nós estamos fados na busca da terra do nunca..., estamos procurando viver dentro da matrix e os super-heróis são a nossa pílula azul que nos mantém feliz dentro de uma ilusão. É necessário despertar desse sonhos de uma noite de verão e acordamos para a nossa responsabilidade enquanto humanos, pois o final feliz só acontecem com a participação efetiva das personagens, ou seja, nós!

domingo, 10 de maio de 2009

A 1ª PESSOA NA CARTA ARGUMENTATIVA: O NÃO-EU

Quando a UFPE e a UFRPE optaram por trabalhar com mais um gênero em suas redações foi comemorado como nunca pelos feras que já estavam cansados da dissertação, pois esse novo modelo possibilita o uso da 1ª pessoa do singular (para alguns, a chance de dizer finalmente! "Eu penso", "Na minha opinião", "Eu acho").

Alguns professores levados pela enforia dos seus alunos teceram rios de elogios sobre a carta argumentativa, mostrando como escrevê-la seria muito simples e, em tom profético, anunciaram que aqueles que nunca conseguiram produzir duas linhas de qualquer texto conseguiriam, finalmente, escrever uma redação com chances a passar em 1º lugar! Optamos pela precaução, antes de empunhar a bandeira da falsa liberdade (em prol do lucro dos que acreditam nessas promessas).

Vamos, primeiramente, pensar sobre o que é a carta argumentativa. Esse gênero, para os vestibulares, significa a usar a primeira pessoa do singular (EU), já que é dirigida a alguém que está anunciada no vocativo (Senhor Fulano de Tal, Vossa Excelência Presidente da República, Vossa Majestade Rainha Elizabeth...), mas eis que é exatamente aí que começam os questionamentos. Sendo o vocativo alguém que o fera não conhece isso implica, invariavelmente, que o "EU" é um "não-eu", ou seja, o fera que se anuncia através do EU é um falso fera, pois ele nunca conversou com o Presidente da República, com a Rainha Elizabeth, com um terrorista... Logo, quando o fera se dirige a essas pessoas ele finge, imagina, inventa, que está num diálogo com essas pessoas. O candidato passa-se por uma personagem.

A palavra personagem é de origem latina, persona que quer dizer máscara. Na grécia antiga, os atores usavam máscaras para representar suas personagens, daí a personagem ser alguém que finge ser um outro. No francês, personnne, significa ninguém. Portanto, aquele que escreve a carta argumentativa é um personagem, não o fera em si. Para deixar claro o que estamos falando, vamos analisar a proposta de 2008 que estreiou a carta argumentativa em nossos vestibulares:

"Imagine que você assistiu a uma conferência em que um cientista defendeu a idéia de que o ser humano, ao longo do tempo, tem evoluído em muitos aspectos. Agora, elabore uma carta formal, dirigida a esse cientista, na qual você manifeste sua opinião acerca do presente tema, argumentando a favor das idéias defendidas ou contra elas."

Façamos uma simples pergunta: quais dos alunos que faziam a prova de redação naquele dia assitiram realmente à conferência? Resposta: NENHUM! Logo, eles estavam assumindo uma personagem, vestindo sua máscara.

O que nos leva a uma conclusão estranha e contraditória em relação ao festejar do início do texto. A dissertação, escrita na 3ª pessoa do singular ou plural, acaba sendo mais pessoal do que a carta, pois na dissertação todas as palavras são do fera (claro que sem a presença do pronome EU), enquanto a carta argumentativa trabalha com um EU falsificado, pois trata-se de uma personagem.

Como argumento final gostaríamos apenas de dizer que a carta é um gênero bastante interessante e que deve ser trabalhando pelos candidatos que prestarão o vestibular de 2010 para a UFPE (tendo em vista que a UFRPE aderiu ao ENEM e, por enquanto, não há carta argumentativa neste), mas toda a precaução é bem vinda para não caírmos em falsas promessas e explicações superficiais que nos levam para a beira do abismo, em vez de conduzimo-nos as portas do céu!

OBS.: Aqueles que estranharam o uso do artigo "a" antes da palavra personagem, fiquem cientes de que no Dicionário Aurélio ela é classificada como substantivo feminino.

Obrigado pela leitura!

DÚVIDAS: l.antonion@gmail.com