terça-feira, 21 de abril de 2009

"Em pleno século XXI, temos fome de quê?" - Tema da UPE de 2008


A UPE brinca com os feras mais nervosos, aqueles que mal lêem o tema, começam imediatamente a produzir seus textos; calma! É o que costumo pedir aos meus alunos quando estão diante da proposta de redação. Analisar rapidamente pode ser o primeiro passo para levar todo o esforço de um ano por água abaixo.

O tema de 2008 mexeu com um elemento da língua portuguesa que, muitas vezes, escapa ao domínio da gramática: a linguagem figurada. Liguagem figurada é quando usamos as palavras com outro sentido que não o consagrado pelo dicionário. Exemplo crasso disso são os provérbios e ditos populares. "Nenhum homem é uma ilha", nesta frase a palavra ilha não quer dizer uma porção de terra circundada de água, mas sim solidão. "Nenhum homem é uma ilha", quer dizer que nenhum homem poder vider sozinho.
Por isso, a temática da UPE exigia dos cadidatos uma atenção redobrada, pois o fera que falasse de comida estaria sujeito a levar ponto de corte na redação. Mas, enfim, a palavra fome quer dizer o que exatamente? No tema, fome está na linguagem figurada, logo equivale a necessidade, ou seja, traduzindo o tema teríamos: Em pleno século XXI, temos NECESSIDADE de quê?
Trara-se de um tema filosófico (que é muito comum na UPE). Mas, por que é uma tema filosófico? "Será que tenho que filosofar ou saber de filosofia?", poderiam perguntar alguns feras. Não! O tema filosófico indica que há uma grande possibilidade de assuntos a serem discutidos. Para o tema em questão, redações que falassem sobre justiça, igualdade social, condição de vida, educação..., estariam dentro da proposta.
O tema filosófico, muito diferente do que pensam alguns, é muito bom, pois evita a fulga do tema que conduz necessariamente ao ponto de corte. Os feras que irão fazer o vestibular da UPE neste ano de 2009, não devem se preocupar com o tema filosófico, já que ele possibilita maior liberdade e criatividade.

É isso, pessoal! Muito obrigado por sua leitura!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

“Beber e não dirigir: consciência ou imposição?” – Tema da UPE de 2008

A Universidade de Pernambuco (UPE) costuma propor temas bastante atuais para a discussão dos feras, o que é bom, pois possibilita reflexão sobre um tema que está nos círculos midiáticos, mas, por outro lado, pega desprevenidos aqueles feras que levados pelo oba, oba dos meios televisivos acabam produzindo textos vazios, com idéias redundantes ou repletas de preconceitos (o que, venhamos e convenhamos, faz parte do repertórios de muitos programas policiais).

A proposta traz uma pergunta seguida de duas opções: consciência? imposição?, qual fosse a escolha do fera ele deveria se remeter a lei seca. O candidato que optasse pela temática da conscientização estaria, necessariamente, assumindo uma postura contrária a lei seca; já aqueles que trabalhassem com a imposição seriam a favor. O que não significa dizer que a dissertação (ou a carta argumentativa) deveria falar em sua totalidade sobre a lei seca, ou seja, redações que se predispusessem a explicá-la ou comentar sua implementação no Brasil, poderiam ser consideradas pela banca como fuga ao tema.

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A lei seca, implementada no ano passado, tinha como função primordial inibir o consumo de bebida alcoólica por pessoas que fossem dirigir. A medida causou polêmica pela radicalidade, o condutor pego com qualquer quantidade de álcool no sangue seria multado e teria o veículo apreendido. Logo, o que se discute é a liberdade. Jean Paul Sartre disse certa vez: “O homem está condenado a ser livre”. Pois, segundo ele, com a supremacia da ciência (e, portanto, vitória do pensamento socrático-platônico) no século XX, estaríamos fadados a governar nossas vidas da maneira como bem desejássemos. Mas, será que sabemos realmente ser livres? E outra pergunta que já aparece como resposta, por que Sartre usa a palavra “condenado”?


A liberdade torna-se um assunto recorrente no final da década de 40, quando presenciamos o fim da 2ª guerra mundial. Após vermos a ascensão e queda de Hitler, passamos a temer o aprisionamento, a não-liberdade. Esse temor nos fez renegar a palavra “não”. O “não” representava tudo aquilo que temíamos tanto, não é à-toa que algumas pedagogias começaram a proclamar que não se podia bater nos filhos ou, segundo Caetano Veloso em sua música homônima: “É proibido proibir”. Mas, o que ganhamos com tamanha liberdade? Com o medo de dizer um não, ganhamos o direito de transgredir, passamos a nos achar no direito de romper com as regras estabelecidas. A tradição estava esquecida.

Será que é por isso que hoje, estamos tão indiferentes para com o outro? Podemos bater e matar alguém sem pensar nas conseqüências? Um comentário, presente no documentário Pro dia nascer feliz de João Jardim, onde uma aluna que matou a facas uma colega pelo simples fato desta não ter permitido a entrada daquela numa festa, mostra que nossa liberdade parece não pertencer-nos.

O que dizer da internet, uma terra de ninguém, onde tudo é possível? Que abriu caminho para a pedofilia e crimes de agressão moral, como o caso daquela professora que teve o seu perfil no Orkut clonado por alunos, nele ela era classificada com alcoólatra e bissexual? Se soubéssemos ser livres realmente, não seria uma questão de consciência saber que ao beber não se deve dirigir?

A lei seca é a prova de que o ser humano não sabe ser livre, que ele não consegue conviver com a variedade de opções. É necessário haver um controle para que a convivência social seja garantida. Nem todos possuem um compromisso com o próximo, que seja, então, através de uma lei, de uma imposição judicial, já que a mesma ciência que deu ao homem a racionalidade, deu-lhe a confiança de, por ser regido pela razão, saber quando estaria completamente alcoolizado e, portanto, impossibilitado de dirigir ou saber quando apenas alguns goles não abalam sua coordenação. Infelizmente esquecemos que o álcool deturpa primeiramente, nossa capacidade de discernir as coisas, ou seja, depois de alguns goles de nada serve nossa ciência, muito menos nossa razão.