domingo, 25 de abril de 2010

"OS DESENHOS ANIMADOS DE HOJE SÃO VIOLENTOS! NO MEU TEMPO NÃO ERA ASSIM!"

(Vagabond - Takehiko Inoue)

Ouço essa frase de pessoas próximas a mim, com uma freqüência terrível. Discordo dela e das pessoas que a proferem por um único motivo:


No Brasil, desenho é coisa para criança.

Essa afirmação é enbasada na própria maneira como os desenhos animados chegaram ao país. Nossa maneira de lembrar dos desenhos de nossa infância é através dos programas matutinos como Xou da Xuxa, Clube da Criança, Bozo, ShowMaravilha, Casa da Angêlica e, recentemente, Bom Dia e Cia (deixei alguns nomes de fora para evitar redundância!), que seguiam o mesmo formato: uma belíssima apresentadora em trajes sexys que dividiam o palco com outras figuras caricatas, cercado por crianças, estas submetidas à bricadeiras e nos intervalos passavam-se desenhos como mais uma alternativa de diversão para as crianças que assistiam em casa.

Veja alguns programas infantis do SBT



Portanto, para nós, brasileirinhos que crescemos vendo esses programas infantis, quase sempre diurnos, aprendemos que os desenhos eram feitos para as crianças com o intuito de alegrar as crianças.

Desenhos dos anos 80:



E foi assim até o final dos anos 90 e início do ano 2000 quando surgiu...



Sim, senhor, Os Cavaleeeeeeiros do Zodíacoooooooo, com eco de tudo! Que trouxe de vez, creio eu, o anime e mangá de forma concreta para o Brasil. Lembro-me que ele passa à noite na finada Rede Manchete, foi um fenômeno e tanto. Após vieram outros e mais outros e mais... Mangás começaram a ser publicados, eventos pipocaram em todo o país, mas o precoceito continua, frases como essas que ilustram nosso título ainda são audíveis. Isso mostra que não se conhece muito do mercado japonês.

O mais básico a se dizer é o óbvio. Trata-se do mercado japonês, logo os mangás e animes foram criados para eles e seu público não para nós. Por isso, devemos olhar para o seu modo de ver as histórias em quadrinhos, para percebermos serem muito mais do que simples "desenhos com olhos grandes".

Primeiro precisamos compreender o seguinte: enquanto nós ainda estamos discutindo se os quadrinhos são uma forma de literatura, os japoneses já têm certeza disso. Segundo, que o mangá (para falarmos do quadrinho japonês) contempla todos nos ninchos sociais: sejam crianças, adolescentes, adultos, ou mais especificamente donas de casa, mecânicos, esportistas, cozinheiros... há mangás para todos os gêneros, as idades e classes sociais, ou seja, no japão, TODOS consomem mangá. Terceiro, portanto, não existem mangás violentos, mas sim, shonen, shojo, hentai, yaoi, seinen...

Tradução?

Shonen são mangás feitos para Garotos como Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Naruto, Bleach, Death Note...;

(Dragon Ball - Akira Toriyama)


(Cavaleiros do Zodíaco - Masami Kurumada)



(Naruto - Masashi Kishimito)



(Bleach - Tite Kubo)



(Death Note - Takeshi Obata)

Shojo, são dedicados as garotos, mangás mais leves, como Sakura Card Captors, Guerreiras Mágicas de Rayearth, Kare Kano, Fruits Basket, Nana...


(Sakura Card Captors - CLAMP)


(As Guerreiras Mágicas de Rayearth - CLAMP)


(Kare Kano - Masami Tsuda)


(Fruits Basket - Natsuki Takaya)


(Nana - Ai Yazawa)

Hentai são mangá eróticos (sim! Os japoneses também pensam naquilo!):

(Darkstalkers - Morgana - Artista desconhecido)

Yaoi também são considerados eróticos, mas direcionados ao público feminino:


Os seinen são mangás para adultos, com cenas de sexo e violência extremadas:

(Gantz - Hiroya Oku)
Há outros gêneros, claro que há, mas coloquei estes para que o público leitor deste blogger possa respeitar e parar de culpar os desenhos pela sua violência. Se a mídia brasileira estivesse realmente preocupada com o teor de violência que nossas crianças estão a assistir. Não permitiriam (como os japoneses não permintem) que animes passassem em horários inadequados.
Outro problema, advém da confiabilidade que país tem na televisão. É crível como a geração que assistiu aos desenhos como "Capitão Caverna", "Smurfs", "Jonnhy Quest"... passe diante da tevê ligada veja seu filho que possui uma idade inapropriada para ver aquela animação e passe pelo mesmo faça cara feia, dirigi-se ao quarto onde encontra-se o cônjuge para dizer-lhe com ar superior: "Esses desenhos de hoje são violêntos demais, na minha época não era assim!" É a velha "síndrome do esperto" que assola o nosso país. Viver glorificando o passado e acusando o presente de possuir as mazelas é bancar de esperto diante da nova geração - traduza-se, nas terras tupiniquis, esperto por idiota. Em vez que solicitar que a nosso televisão passe aqueles desenhos em outros horários ou (não sejamos puritanos) pedir que não passem aqueles desenhos, já que cabe aos profissionais da televisão perceber que há um público que não é composto por meninos e meninas que usam fralda, mas de adolescentes e adultos fãs realmente e, nada custa, informar-lhes que devido a inadequação do horário sua atração passará a tal hora à noite.
Mas, não. Estamos falando do Brasil, a terra dos espertos. Se está dando mais audiência os tais desenhos de olhos grandes violentos, é melhor que continue assim. Danem-se a ética e o respeito ao próximo.

E só para esquentar ainda mais o nosso debate. Vamos discutir o caso dos cinemas? Quem percebeu que de uns tempos para cá, os cinemas passaram a adotar anúncios em seus cartazes que dizem a idade recomendada para assistir ao filme? No entanto, se eu, enquanto pai vou bater boca com o pessoal do guiché para que meu filho de oito anos assista a um filme classificado para dezoito, ora estou dizendo diante de todos que assumo toda a responsabilidade, certo?

Outro caso a se comentar é o da própria televisão que em muitos horários inadequados passa certas atrações disfarçadas de telejornalismo como - falo das atrações da tevê pernambucanca - Bronca Pesada ou Ronda Geral. Ou seja, no horário de almoço, quando algumas famílias estão em casa para, vemos morte, morte e mais morte... Os telejornais da tarde? Que com o falso compromisso de transmitir a verdade doa em quem doer: colocam imagens fortes de violência real para nosso deleite taciturnio.

E ai? Como fica? Por que apenas o jornal é classificado como para adultos? Os adultos estão trabalhando, presos a enormes jornadas de trabalho. Quem absorve essa poluição visão são as crianças, pois no Brasil 80% (essa porcentagem se justifica por mim, pois como professor vejo que os horários da manhã estão lotados, enquanto à tarde alguns colégios sofrem para fechar uma urma) estudantes cursam o período da manhã e estão em casa para assistir a "grande programação educativa da televisão brasileira" que dentre as grandes atrações possui MALHAÇÃO, ou traduzido por COMO APRENDER A FAZER SEXO NA TEVÊ.

Por tanto, antes de acharmos tão facilmente um culpado no universo mangá. O melhor seria observarmos melhor e compreendê-lo para não sairmos julgando sem saber. E olharmos a nossa volta para percebemos que no lugar das conseqüências antes devemos procurar as causas reais e concretas.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

DICA DE FILME: AS HORAS

Magnífico filme que conta um pouco da vida da escritora inglesa Virginia Wolf e da produção de seu livro, considerado por muitos sua obra prima, Mrs. Dalloway. Para quem gosta de história de escritores e para quem gosta de assistir a excelentes filmes, este não irá lhe decepcionar.

Sinopse
Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro "Mrs. Dalloway". Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e idéias de suicídio. Em 1949 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com Aids e morrendo.


Assista ao trailer:


segunda-feira, 12 de abril de 2010

AS NOVELAS BRASILEIRAS NÃO SÃO O PROBLEMA

Não basta apenas dizer que as novelas influenciam as pessoas. Dizer que o telespectador segue as tendências da moda que ela gera ou modismo lingüísticos como "é a treva", "estou rosa chiclete", dentre outros que devo desconhecer por não lhes assistir. Isso é pouco, é insuficiente, facilmente desmentido e de pouca relevância. Teorizar sobre as telenovelas no Brasil é falar, na verdade, de como elas falsificam a realidade? O ditado imortalizado pelo propagandista nazista Joseph Goebbels: "Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade". Desconheço quantas novelas foram produzidas (estaríamos na milésima?), mas acredito que hoje o que vemos é uma verdade-mentira.

Sabemos como ninguém, que nenhum brasileiro anda de calça jeans nos momentos de lazer em nossas moradas; que nenhuma mulher já acorda com cabelos escovados e maquiada ao cantar do galo; que nordestino (porque o sou e posso garantir) não falam daquela forma caricata; que negros não ocupam papéis subalternos; que o "pobre não leva a vida com humor apesar das dificuldades"; que nossas caras-metade não possuem pele clara e cabelos loiros ou semi; e que se são negras, não são casadas com homens sarados, brancos, com barba mau-feita-bem-feita (já que está sempre no tamanho ideial), o mais engraçado é que sabemos disso. Se se pergunte a alguém andando no meio da rua se as novelas transmitem 100% a realidade nacional, salvo alguns psicóticos, os demais responderão que 100% é exagero.

Logo, fica a pergunta, por que assistismos? Para tentar responder, vou contar uma experiência recente minha, com meus alunos: estava corrigindo um bolo de redações que tinham como tema a televisão. Todas as redações, todas, criticavam a televisão em um desses aspectos que citei, mas meus alunos continuam a assistir. Estranho? Não! Da mesma forma que vou ao cinema assistir aos filmes sabendo que é mentira, meus alunos chegam as suas casas após o colégio e ligam a tevê, a caixa mágica que como disse uma charge de Calvin que li recentemente em uma gramática minha: "a caixa mágica que lança milhões de imagens em um fluxo tão rápido que me impedem de pensar". E quem quer pensar hoje?

O brasileiro acordou as 5 da manhã, chegou as 8 horas da noite a sua casa, ceia e... vai sentar para ler O banquete de Platão? Desculpem, mesmo você, leitor deste blogger, sabe que isso não irá acontecer. Por isso digo-lhes a contra-gosto de alguns, que as novelas no Brasil são ótimas e que cumprem o seu papel de criar uma série de histórias para que os telespectadores não pensam, descansem a mente.

Surpresos? Nem tanto! Num mundo capitalista, só há duas coisas a se fazer, ter dinheiro para gastá-lo. É simples. Só isso. Passamos a vida vendendo nossa mão-de-obra, para no final do mês termos alguns pedaços de papel que simbolocamente dizem valerem algo, para trocarmos por tudo. Sim, TUDO! Comida, saúde, lazer, sexo... Capitalismo é só isso. Os empresários e políticos quebram a cabeça para fazer com que o fluxo de papéis pintados de dinheiro continue a existir; elaborar mais formas de como gastá-los é obrigação dos nossos representantes políticos e empresários a lá Roberto Justus. Quem vive nessa roda-viva, recebe papel, gasta o papel. Se o trabalhador não trabalha, ele precisa estar comprando, pois se não compra, não pode trabalhar.

Por isso, chegamos a estranha pergunta que deve ser aquela feita por todos os empresários à noite quando estão transando com seus cônjuges: "Se o trabalhador vai para casa no final do expediente, ele não está trabalhando, certo? Não está consumindo também, porque cansado foi para o lar doce lar, descansar, certo? Se ele descansar, não compra, certo? O que fazer então? Simples vamos mostrar-lhe o que comprar, dar-lhe opções para gastar os pedaços de papel que ganhará no final do mês! Euréca! É isso! Fómula mágica! Todos felizes!"

Repito, no sistema capitalista só existe venda e compra. Se desejamos manté-lo, precisamos sentar a frente da televisão, implorando, "minta para mim, não permita que eu veja a realidade". Lembre-se de duas passagens emblemáticas do filme MATRIX. Na primeira, Morpheus diz a Neo que não pode simplesmente desconectar todos da Matrix devido a uma rejeição da mente. "Ela não suporta a realidade", diz ele. Na segunda, o Agente Smith, diz a Morpheus capturado, que a primeira Matrix foi projetada para ser o mundo perfeito de cada ser humano, mas que isso não deu certo, foi caótico, segundo ele. É assim que vivemos, presos na nossa Matrix, precisamos que nos iludam. Precisamos das mentiras das telenovelas, pois precisamos manter o sistema capitalista funcionando.

Por que precisamos manté-lo funcionando, você me pergunta caro internalta? Porque o sistema capitalista é a essência humana. Ele é nossa imagem e semelhança. Através dele satisfazemos nossos impulsos, colocamos nossos desejos para fora. Ou você vai negar que não se imaginou em nenhum momento, numa mansão luxuosa, repleta de empregados dando-lhe do bom e do melhor e que no final de sua existência quando seu corpo parar, encontrar com Deus que vai dizer: "Você foi uma boa pessoa, pode entrar!", admitamos seria perfeito, não?

Por que vocês acham que os concursos públicos estão em alta? Por que muitos escolhem as carreiras militares e os cursos universitários das áreas de exastas e saúde? Por quê? O porquê é disso que precisamos, está explícito no próprio funcionar das telenovelas. São meios de gerar dinheiro sem pensar muito. Sem tentar resolver os problemas reais, concretos. Para pensarmos num mundo sem novelas, sem loiras siliconadas, sem mulheres esqueleto, sem homens sarados, sem músculos no lugar de cérebro, sem pobre feliz..., devemos pensar num mundo sem capitalismo. O sistema existe por que o queremos. Como disse o garotinho careca, em outra passagem do filme Matrix para Neo: "A colher não existe".

Este texto foi requerido pelo visitante Lúcio. Obrigado!

domingo, 11 de abril de 2010

DICA DE FILMES: O LEITOR

Um filme fantástico para quem deseja esquecer a trágica participação de Kate Winslet em Titanic.

SINOPSE:

Na Alemanha pós-2ª Guerra Mundial o adolescente Michael Berg (David Kross) se envolve, por acaso, com Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma mulher que tem o dobro de sua idade. Apesar das diferenças de classe, os dois se apaixonam e vivem uma bonita história de amor. Até que um dia Hanna desaparece misteriosamente. Oito anos se passam e Berg, então um interessado estudante de Direito, se surpreende ao reencontrar seu passado de adolescente quando acompanhava um polêmico julgamento por crimes de guerra cometidos pelos nazistas.

TRAILER:



sábado, 10 de abril de 2010

THE MATRIX


Reassisti-lo é ter a certeza de que na trilogia foi o único que realmente pode ser levado a sério. Possui muitas referências sobre filosofia, psicanálise, religiosas... Recomendo que assistam ao primeiro filme como se fosse uma obra acabada, pronta. Sem levar em continuação o Matrix Reload e o Matrix Revolution.
Percebam a analogia feita por Morpheu (Laurence Fishburne) entre realidade e ficcção como poderia bem facilmente explicar a nossa relação com o capital.
Dêem uma segunda chance ao The Matrix e... simplesmente, esqueça os outros!

Sinopse


Até que ponto o que vivemos é a realidade? Descobrir que o mundo é uma farsa criada por máquinas poderosas para nos controlar pode significar o fim para muita gente. Mas, em Matrix, isso é o início de uma luta surpreendente, que irá perturbar você do começo ao fim...


http://www.youtube.com/watch?v=-YKg_XbEmik


quinta-feira, 8 de abril de 2010

MOMENTO DE LEITURA: TEXTO DE ARNALDO JABOR



Reality shows matam fome de verdade


Ah... é? Querem show de realidade, reality show? Pois aqui vai um artigo-realidade, com todas as suas dúvidas, informe rascunho, sujo texto, tudo que me passar pela cabeça enquanto escrevo. Será a verdade de minha mentira ou a mentira de minha verdade?

Besteira, deixa de filosofias baratas... Deixa eu ver... Nelson Rodrigues dizia que a novela era importante para satisfazer nossa fome de mentiras. O show de realidade é para satisfazer nossa fome de verdade. O Paulo Emílio, o grande crítico de cinema, dizia que vamos ao cinema como ao bordel - em busca de ilusão.

É isso aí... só que a televisão não é no escurinho do cinema, que tem algo de secreto, de fuga, algo que ficou no fundo dos anos 30-40. Não; a TV é com luz acesa, a TV é uma vitrine na tua sala, com ofertas de sabonete e de amores. TV não vende ilusão; vende desejos e os desejos crescem.

A ficção, no cinema e na TV, não está dando conta do horror da realidade, do real-espetacular de hoje. Que filme teve mais impacto que o reality show do Osama Bin Laden no dia 11 de setembro? Nunca a ficção foi tão real. As notícias e a ilusão se uniram em quatro aviões caindo do céu americano, porque, como sabemos, a TV é dividida em dois mundos: "The news is bad, the ads are good", como disse alguém. (Quem? McLuhan, Daniel Bell? "As notícias são más, os anúncios são bons" - (NB: 'news' é singular mesmo...) Naquele dia, o sonho explodiu. Naquele dia, descobrimos que a realidade não estava morta e que ela se movia com o timing ideal dos filmes... e tudo num curta-metragem de 20 minutos.

Portanto, depois do 11 de setembro, como 'entreter', como fazer um desgraçado esquecer do mundo que estoura lá fora, que ilusão se pode ter, quando o horror não te deixa dormir no sonho e na mentira? E não só os deliciosos horrores que te satisfazem o rancor, mas também que ilusão te aquecerá para você esquecer o que viu na TV, a maravilha que poderia ser tua vida, quando você é apenas um excluído, sem grana para pagar um reles tênis ou uma sórdida geladeira? (Misturo 'tu' com 'você', oh... gramáticos, como na vida real) Além disso, nos dias de hoje, você não se deixa mais enganar com musicais românticos, você não é mais amansado por Fred Astaire e Cid Charisse dançando no escuro, você está indócil, querendo existir. Aí, Hollywood saca isso e resolve te dar mais "entretenimento", aumenta a dose da droga, mais na veia, mais, e porradas a granel e efeitos especiais e mais sexo, sexo, sexo... Mas, não adianta muito, porque... até onde pode ir um filme pornográfico, até onde?Até o interior do corpo, até o intestino pelo olho do ânus, pelas vaginas a dentro para achar a alma? E você também não tem como comer aquelas gatas de seios siliconados, musas virtuais, e tuas punhetas se encerram num triste jato de nada na mão molhada.

No meu delírio teórico, eu pensei: "Ahh... o reality show atende a um desejo do homem comum de ver a própria concepção, a 'cena primária', como dizem os psicanalistas, ver pelo buraco da fechadura, edipicamente, papai e mamãe transando na cama sagrada do drama burguês."

Mas, não. É mais que isso, mermão. Isso apenas 'faz parte'. Você quer mesmo é invadir a TV como os assaltantes invadem uma casa. Você quer ver o que acontece no mundo dos que amam, dos que consomem, dos que existem. Você quer 'ver'; não sabe bem o quê ainda, mas quer ver o que te escondem, ver algo que te é negado. Você quer estar onde tem tudo: iogurte, carro do ano, Jade, cerveja com mulher boa, carros sport, luxo no shopping virtual da tela, você quer morar lá dentro como uma rosa púrpura do Cairo."

Mas, aí, você bateu na tela de vidro e não entrou, na emissora o porteiro te barrou, e você viu que teu sonho era impossível. Foi então que as televisões do mundo perceberam tua desesperada vontade de existir e te disseram: "Você pode entrar se for selecionado e sair daqui com corpo e alma, com identidade, você pode nascer como o Bam Bam nasceu para a vida!" O reality show é o quebra-galho do sonho do socialismo que morreu, onde todos seríamos multidões cantantes. O reality show é democracia de massas cobrando ingresso.

Mas, aí, nova surpresa. O SBT quis mostrar a verdade cotidiana de gente famosa, de personagens 'de ficção' da mídia. Enquanto isso, a Globo mostrou a aura que pode aflorar de anônimas e banalíssimas pessoas.

E o ibope subiu ao avesso. Descobriu-se que você não quer ver famosos e gostosas, como a Tiazinha e a Feiticeira revelando aos poucos sua 'verdadeira' face ou mesmo sua verdadeira bunda. Você não quer ver a Tiazinha lavando roupa e a Feiticeira varrendo a casa. Não. Você quis ver os anônimos florindo e brilhando. Você quis ver uma beleza que vai aparecendo na convivência de gente boba como você, gente que chora sem motivo, gente que fala com boneco, gente que vomita. Mais do que ver 'sacanagem' ou 'cena primária', você descobre (e as TVs também) que quer ver o vazio, o nada do cotidiano, descobre que quer o alívio da informação e o vazio da verdade. A verdade é vazia, não-transcendental, a verdade está na pausa, no tédio, na falta de assunto, você quer o alívio do nada.

O sucesso do Big Brother esteve na verdade que se infiltrou quando nada acontecia, entre os momentos em que mentirosamente eles fingiam sofrer ou amar. O sucesso se deveu ao nada, ao tempo morto. Ali, no irrelevante, arde uma verdade profunda, sem nome, sem efeitos. Naqueles instantes, nasce alguma coisa que se parece com tua vida. Você quer ver o que acontece quando nada acontece. Na verdade, você quer ver quem é você. Qual será tua próxima fome?

Arnaldo Jabor

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O MOVIMENTO EMO

EMO seria uma abreviação da palavra inglesa "emotion" (emoção). São pessoas que se vestem de preto (ou roupas escuras), pintam os cabelos com o intuito de criar um visual mais sombrio e aparentam melancolia e tristeza constante. Mesmo que isso seja caricatural ou que em algum momento essa descrição não alcance todos os aspectos dos emo's hoje, o que me faz falar deles é exatamente a última parte a tristeza.

Suas fotos que podem ser conferidas em vários fotolog's espalhados pela internet revelam isso. Estão sempre sérios ou em atitudes que contradizem alguém que está feliz por pertencer a um grupo de amigos, estar em um momento de descontração... Suas representações em forma de cartoom, como a foto escolhida para ilustrar nossa postagem, trazem emoções exaltadas, atitudes que beiram a paranóia, feições sombrias... parece se constratar com outro tipo de imagem
viculado nos comerciais de cerveja - não estou em momento algum afirmando que o movimento emo surgiu em oposição as garotas dos comerciais de cerveja, mas que as mulheres dos comerciais de cerveja são estereotipos para aquilo que alguns teóricos, dentre eles o psicanalista francês Charles Melman, chamam de "imperativo da felicidade".

Essas duas imagens postas logo acima demonstram bem esse antagonismo. Enquanto a mulher do comercial de cerveja está seminua, a menina emo veste-se dos pés a cabeça; esta se já não os têm tinge os cabelos de preto, aquela, de loiro; a primeira é serviçal, a segunda, radical; a mulher do comercial de cerveja esbanja sorrisos, a menina emo permanece séria.

Quando a tristeza vira moda significa que algo está acontecendo. E o movimento emo, para mim, representa exatamente isso, um manifesto a tristeza. Num mundo onde ninguém pode ficar triste, pois está deprimido ou estressado, um grupo de jovens veste-se para de preto (como se estivessem em luto). A indústria dos antidepressivos suprime o soma do Admirável Mundo Novo do Hurxley, as pessoas fazem festa quando se divorciam, vão ao shopping quando estão chateadas, ou seja, impedem a si próprias de sentir-se "down".

E aqueles jovens esquisitos estão tentando nos mostrar como estamos sendo obrigados a sermos felizes, procurando essa felicidade, no consumo, no sexo, na internet, nos remédios, nas academias, nos shopping centers..., em todos os lugares..., mas será que a tristeza é tão ruim assim? Ficar em casa sozinho, sem querer ver ninguém..., é, pensando bem, ao fazer isso não estamos gastando dinheiro, não estamos fazendo a máquina do consumo funcionar, talvez seja por isso que os comercias mostrem pessoas alegres, felizes ao comprarem.

Aquele grupo de esquisitões vestidos de preto que vivem passando por nós na rua com um certo olhar de desprezo esteja nos dando uma lição e tanto, ao usa a tristeza como badeira de guerra façam com que a gente pense: "Quando foi a última vez que me deixe ficar triste?", mas triste mesmo, não aquela vez em que alguém ligou para mim e me chamou para sair, pois não queria me ver "down"? Quando foi a última vez que deixei que a tristeza realmente ficasse em mim e que depois de alguns dias passasse como uma gripe, e como esta, que eu sentisse que meu corpo ficou mais forte, que aprendi algo, ganhei experiência? Quando? Sem livros de auto-ajuda, sem msn messeger tendo convulsões de pessoas me dando conselhos baratos?

Ficar deitado numa cama sem contato com o mundo, sozinho. E aí vem outra pergunta, quando foi a última vez que fiquei só ouvindo Everybody Hurts do R.E.M.. Quando?

domingo, 4 de abril de 2010

TERRA EM TRANSE (DE GLAUBER ROCHA)


Assisti ontem (hoje, já que era uma da madrugada) o filme de Glauber Rocha, Terra em Transe. Recomendo-o. Não pela imagem, pois foi filmado em 1967(e aparetemente, seu diretor quis realmente passar a impressão de um mundo em transe, apático, confuso), o áudio também não ajuda, já que naquele período primeiro o filme era gravado depois os atores gravavam o áudio e se dublavam, mas as partes audíveis revelam momentos sublimes. Os diálogos são impecáveis. Há uma frase que até parei o filme para registrar: "Não anuncio cantos de paz, nem me interesso as flores do estilo. Como por dia mil notícias amargas que definem o mundo em que vivo" (Paulo Martins - personagem do filme).

Sinopse:

Na fictícia República de Eldorado, Paulo Martins é um jornalista e poeta que tenta mudar a situação de miséria e injustiça que assola o país. O jornalista trama a ascensão ao governo da cidade de Alecrim de um candidato supostamente progressista chamado Felipe Vieira, o qual concorrerá posteriormente à presidência da República contra o senador Porfírio Diaz, tecnocrata que apoiou a candidatura do atual Presidente, Fernandez.

Para estes fins, Martins busca o apoio do maior empresário do país para deter o avanço de uma multinacional estrangeira sobre o capital nacional. Inicialmente, tudo vai bem, porém problemas sociais e a corrupção arruinarão suas intenções. Tudo isso em meio a um triângulo amoroso entre Martins, a ativista Sara e a meretriz Sílvia. As semelhanças com a ditadura militar do Brasil, naturalmente, são intencionais.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

AS HISTÓRIAS INFANTIS FAZEM ANIVERSÁRIO

Aniversário de Hans Christian Andersen


Hans Christian Andersen era filho de um sapateiro e sua família morava num único quarto. Apesar das dificuldades, ele aprendeu a ler desde muito cedo e adorava ouvir histórias.


A infância pobre deu a Andersen a chance de conhecer os contrastes de sua sociedade, o que influenciou bastante as histórias infantis e adultas que viria a escrever. Em 1816, seu pai morreu e ele, com apenas 11 anos, precisou abandonar a escola, mas já demonstrava aptidão para o teatro e a literatura.

Aos 14 anos, Andersen foi para Copenhague, onde conheceu o diretor do Teatro Real, Jonas Collin. Andersen trabalhou como ator e bailarino, além de escrever algumas peças. Em 1828, entrou na Universidade de Copenhague e já publicava diversos livros, mas só alcançou o reconhecimento internacional em 1835, quando lançou o romance "O Improvisador".

Apesar de ter escrito romances adultos, livros de poesia e relatos de viagens, foram os contos infantis que tornaram Hans Christian Andersen famoso. Até então, eram raros livros voltados especificamente para crianças.

Em suas histórias Andersen buscava sempre passar padrões de comportamento que deveriam ser adotados pela sociedade, mostrando inclusive os confrontos entre poderosos e desprotegidos, fortes e fracos. Ele buscava demonstrar que todos os homens deveriam ter direitos iguais.

Entre 1835 e 1842, Andersen lançou seis volumes de "Contos" para crianças. E continuou escrevendo contos infantis até 1872, chegando à marca de 156 histórias. No final de 1872, ficou muito doente e permaneceu com a saúde abalada até 4 de agosto de 1875, quando faleceu, em Copenhague.

Graças à sua contribuição para a literatura para a infância e adolescência, a data de seu nascimento, 2 de abril, é hoje o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Além disso, o mais importante prêmio internacional do gênero leva seu nome.

Anualmente, a International Board on Books for Young People (IBBY) oferece a Medalha Hans Christian Andersen para os maiores nomes da literatura infanto-juvenil. A primeira representante brasileira a ganhá-la foi Lygia Bojunga, em 1982.

Entre os títulos mais divulgados da obra de Andersen encontram-se: "O patinho feio", "O soldadinho de chumbo", "A roupa nova do Imperador", "A pequena sereia" e "A Menina dos Fósforos". São textos que fazem parte do imaginário da maioria das crianças do mundo desde sua publicação até a atualidade, tendo sido adaptados para o cinema, o teatro, a televisão, o desenho animado, etc.

Fonte: Uol Educação

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CAPITALISM - A LOVE HISTORY


Documentário de Michel Moore, relata as conseqüências do sistema capitalista. Expondo sua real face, indo além da falsa liberdade que esse sistema proporciona. Mostra como estamos chegando a uma situação limite onde o rio divisor entre ricos e pobres pode se tornar o fim para ambos os lados.
É um excelente documentário onde é possível ver os malefícios desse sistema que tem como meta principal "tomar" das pessoas do que lhes dar algo.

A baixo vai o trailer legendado para vocês assistirem: