terça-feira, 1 de junho de 2010

JOVENS VÂNDALOS

Li no Jornal do Commercio de domingo (30/05/07), que um grupo de jovens organizaram uma baderna através do Orkut e, depois do feito, divulgaram sua atuação no YouTube. Muito poderia ser dito sobre estes jovens e sua juventude perdida. Autoridades policiais, psicanalistas e pais vêem o (mal) exemplo como um momento para glorificar um passado (o seu obviamente) onde os jovens eram calmos e respeitavam as leis (paternais ou sociais).

Gostaria de endossar as críticas, mas usar o futuro do pretérito do verbo gostar não foi mero acaso. Para aqueles que desconhecem, esse tempo verbal indica uma ação que ia ocorrer (futuro), no entanto algo a impede deixando-a na impossibilidade (passado). Perdoem meu ceticismo. Acho, apenas, que o discurso saudosista olha as conseqüências e não as causas. Criou-se um discurso silencioso nos meios jornalísticos, que como diz Eni P. Orlandi (2007, p.16) “[...] produzem realmente a multiplicação (diversificação) dos meios mas, ao mesmo tempo, homogeneízam os efeitos”, por outras palavras, classificar o evento corrido de falta de limites dos adolescentes atuais é esquecer que o sujeito se constitui na/pela história.

A psicanálise explica que a adolescência é uma fase-crise, aquela criança que olhava para os pais e via grandes heróis, perfeitos e indestrutíveis, começa a perceber nos pais o seu reflexo falho, distorcido e imperfeito. Essa energia que foi investida retorna e agora será lançada em outro(s) objeto(s). Dar ouvidos ao conselho de amigos e namorados parece natural então. Portanto, seria esse o momento de dizer que aqueles jovens foram influenciados por mentes juvenis desequilibradas? Talvez fosse mais uma resposta fácil. Direi não e explico-me através da pergunta (o não-dito): Por que anunciar com antecedência em um site de relacionamento diante de todos os internaltas? Por que divulgar a filmagem em um site onde todos podem ver? Seus rostos serão identificados, por que correr esse risco?

Alguém dirá: “São jovens carentes, que não tiveram boa educação nem de casa nem da escola.” Os leitores que pensam assim estão enganados. Mais uma vez caíram no velho-novo discurso jornalístico. Pois, nos levaria a concluir que os culpados são os pais e professores e, perdoem insistência, isto seria muito fácil, não? Volto a questioná-los. Por que escolher um meio eletrônico a vista de todos? Os antigos nos ensinaram a tramar na surdina, criar códigos como os templários e desconfiar de tudo e todos para que o segredo fosse bem guardado como na guerra fria, mas aqueles jovens não fizeram nenhuma esforço para esconder o que estavam tramando. Esse é o discurso silencioso que comentei mais acima, um discurso que a mídia impressa e televisiva esqueceu-se de resgatar (coincidência?).

Há, na adolescência, outra crise acontecendo: a busca da identidade. O jovem deseja saber quem ele é longe dos pais e qualquer figura representante de autoridade como os professores, por exemplo. Como se eles olhassem para o mundo e perguntassem: “O que você espera de mim?”, “O que quer que eu seja?”, “O que eu quero ser?”. Na busca por respostas, ele olha para a própria cultura - a mesma que grande parte dos pais e professores (mais estes que aqueles, infelizmente) passaram a vida inteira alertando-os para tomarem cuidado e aprenderem a pensar por si mesmos. E o que a cultura lhes responde: TENHA VISIBILIDADE.

Mesmo que para isso seja preciso andar de fio dental em um programa televisivo e jogar fora seu curso de advocacia, medicina, docência...; mesmo que tenha que aparecer numa capa de revista masculina ou de fofoca sem calcinha (de propósito claro! Para depois dizer que não sabia.); mesmo que fale “probrema”, mas exiba um corpo sarado e músculos definidos; mesmo que faça um filme pornô e chame isso de arte; mesmo que tire a roupa no meio da rua (e depois diga aos repórteres que o fez como sinal de protesto); mesmo que case com alguém famoso(a) e dois dias depois separe; mesmo que para isso precise ir ao motel com três travestis; mesmo que tenha que casar com um bandido..., se o resultado for obter visibilidade, com certeza haverá sucesso e no final felicidade.

Não se choquem. Olhem para os comerciais, as novelas, os tele-jornais, as revistas de fofoca... todos querem aparecer na mídia, serem vistos, serem famosos. Disse Arnaldo Jabor em uma crônica: “Num país onde todos querem ser vistos, ninguém vê ninguém”. Porque só assim seremos felizes. Por isso, os jovens da zona sul postaram o vídeo no YouTube, eles queriam ser vistos. Já posso até imaginar um pequeno diálogo no Orkut após a saída da matéria no JC:


Assaccinosserialquiller:

VIU?! SAIMO NO JORMAL TAMO FAMOSO, MOVEIO! NA PROCHIMA, MATAMO GENTE!

Onoismetalhamooprofeçoor:

INTÃO!!!!!! E NOIS!!! E SO ISCOLE O CANO!!!!!!!!!!!!

OBS.: O diálogo e os erros são fictícios!

Escrevi o texto, pois estou cansado de ver velhas mazelas sendo vistas como novas. Ouvir as pessoas conversando nos ônibus glorificando um passado que não volta mais. Ler livros que culpam nós, professores, por não conseguirmos derrotar a grande mídia e seu discurso silencioso de mover o mundo não pensando num bem-estar comum, mas e apenas, no lucro que podem obter, vendo jovens destruírem suas vidas contanto que tenham algo para publicar. Recomendo a leitura do texto de Arnaldo Jabor “Reality Shows matam nossa fome de verdades”. Para analisar como nós ficamos tão fascinados por esses programas que mostram a “realidade”.

Por isso, numa cultura de consumo, exibicionismo e valorização da mediocridade me espanta a matéria estampada na capa do jornal. Como disse, isto é a conseqüência não a causa, ninguém deveria ficar chocado. Olhem para a nossa cultura atual e se pergunte: Não é esperado? Não é óbvio que iria acontecer? Antes de assustados deveríamos bater palmas para esses jovens, pois eles conseguiram. Concretizaram o sonho midiático, alcançaram o show business, obtiveram seus cinco minutos de fama. Pais orgulhosos: “Agora, meu/minha filho(a) é famoso(a)!”; Nós, docentes, também vamos aplaudi-los de pé: “Finalmente fizeram jus a nosso salário medíocre! Quem precisa de educação quando se tem televisão e fama?! Quem?”. Jovens, estamos orgulhosos de vocês! Parabéns! Mas, infelizmente daqui a pouco seu sucesso será coisa velha, não venderá estampará mais capas de jornais e revistas ou estará nos tele-jornais, por isso vão precisar de algo mais grave, o que será?

P.S.: ESTE TEXTO FOI ENVIADO AO JORNAL DO COMMERCIO-PE.

Nenhum comentário: