quinta-feira, 9 de abril de 2009

“Beber e não dirigir: consciência ou imposição?” – Tema da UPE de 2008

A Universidade de Pernambuco (UPE) costuma propor temas bastante atuais para a discussão dos feras, o que é bom, pois possibilita reflexão sobre um tema que está nos círculos midiáticos, mas, por outro lado, pega desprevenidos aqueles feras que levados pelo oba, oba dos meios televisivos acabam produzindo textos vazios, com idéias redundantes ou repletas de preconceitos (o que, venhamos e convenhamos, faz parte do repertórios de muitos programas policiais).

A proposta traz uma pergunta seguida de duas opções: consciência? imposição?, qual fosse a escolha do fera ele deveria se remeter a lei seca. O candidato que optasse pela temática da conscientização estaria, necessariamente, assumindo uma postura contrária a lei seca; já aqueles que trabalhassem com a imposição seriam a favor. O que não significa dizer que a dissertação (ou a carta argumentativa) deveria falar em sua totalidade sobre a lei seca, ou seja, redações que se predispusessem a explicá-la ou comentar sua implementação no Brasil, poderiam ser consideradas pela banca como fuga ao tema.

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A lei seca, implementada no ano passado, tinha como função primordial inibir o consumo de bebida alcoólica por pessoas que fossem dirigir. A medida causou polêmica pela radicalidade, o condutor pego com qualquer quantidade de álcool no sangue seria multado e teria o veículo apreendido. Logo, o que se discute é a liberdade. Jean Paul Sartre disse certa vez: “O homem está condenado a ser livre”. Pois, segundo ele, com a supremacia da ciência (e, portanto, vitória do pensamento socrático-platônico) no século XX, estaríamos fadados a governar nossas vidas da maneira como bem desejássemos. Mas, será que sabemos realmente ser livres? E outra pergunta que já aparece como resposta, por que Sartre usa a palavra “condenado”?


A liberdade torna-se um assunto recorrente no final da década de 40, quando presenciamos o fim da 2ª guerra mundial. Após vermos a ascensão e queda de Hitler, passamos a temer o aprisionamento, a não-liberdade. Esse temor nos fez renegar a palavra “não”. O “não” representava tudo aquilo que temíamos tanto, não é à-toa que algumas pedagogias começaram a proclamar que não se podia bater nos filhos ou, segundo Caetano Veloso em sua música homônima: “É proibido proibir”. Mas, o que ganhamos com tamanha liberdade? Com o medo de dizer um não, ganhamos o direito de transgredir, passamos a nos achar no direito de romper com as regras estabelecidas. A tradição estava esquecida.

Será que é por isso que hoje, estamos tão indiferentes para com o outro? Podemos bater e matar alguém sem pensar nas conseqüências? Um comentário, presente no documentário Pro dia nascer feliz de João Jardim, onde uma aluna que matou a facas uma colega pelo simples fato desta não ter permitido a entrada daquela numa festa, mostra que nossa liberdade parece não pertencer-nos.

O que dizer da internet, uma terra de ninguém, onde tudo é possível? Que abriu caminho para a pedofilia e crimes de agressão moral, como o caso daquela professora que teve o seu perfil no Orkut clonado por alunos, nele ela era classificada com alcoólatra e bissexual? Se soubéssemos ser livres realmente, não seria uma questão de consciência saber que ao beber não se deve dirigir?

A lei seca é a prova de que o ser humano não sabe ser livre, que ele não consegue conviver com a variedade de opções. É necessário haver um controle para que a convivência social seja garantida. Nem todos possuem um compromisso com o próximo, que seja, então, através de uma lei, de uma imposição judicial, já que a mesma ciência que deu ao homem a racionalidade, deu-lhe a confiança de, por ser regido pela razão, saber quando estaria completamente alcoolizado e, portanto, impossibilitado de dirigir ou saber quando apenas alguns goles não abalam sua coordenação. Infelizmente esquecemos que o álcool deturpa primeiramente, nossa capacidade de discernir as coisas, ou seja, depois de alguns goles de nada serve nossa ciência, muito menos nossa razão.

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