quinta-feira, 11 de março de 2010

PROBLEMAS DA EDUCAÇÃO HOJE!


Um peso e várias medidas


No filme, “Ao mestre com carinho”, vemos um professor negro que na verdade é formado como engenheiro e para não ficar desempregado, assume o papel de educador. Mesmo recebendo um salário baixo, ele persiste na profissão causa uma revolução numa sala de aula de adolescentes desordeiros. Os elementos que figuram esse filme estão presentes em diversas obras cinematográficas que desejam retratar a sala de aula. A figura do professor(a) pobre que revoluciona a sala de aula é épica e lendária, e é usada como discurso para nunca (ou quase nunca) debatermos sobre uma remuneração digna para os docentes.


Em um mundo capitalista, onde a mais-valia é imperativo fundamental, os empregos que melhor remuneram seus empregados são aqueles que pela lógica própria do capital atraem as melhores cabeças. Dessa forma, os cursos de licenciatura tornam-se sub-opções nas escolhas dos candidatos que prestam vestibular. Para confirmar esse raciocínio basta dizer que nenhum estudante conclui o ensino médio, faz a prova do vestibular e passa de quatro a cinco anos em média na faculdade para tornar-se (com todo o respeito e necessidade dessas profissões) motoristas de ônibus, copeiras, lavadeiras, empregadas domésticas, domésticas, catadores de lixo, camelôs...; hoje, um cobrador de ônibus recebe um salário maior que um professor que possui uma carga-horária alta como, por exemplo, o limite que é duzentas horas-aula.


O ingresso nos cursos de licenciatura faz-se por não-capacidade de ingressar em outros cursos. O aluno de Letras muitas vezes queria fazer jornalismo ou direito, ou ciências sociais, mas por incapacidade de atingir a nota para estes, acaba optando por aquele; o estudante de biologia outrora vislumbrava o curso de medicina, enfermagem, ciências biológicas, contudo, por motivos idênticos, cursa a licenciatura em ciências biológicas, resultado não será um bom profissional. - Não estamos, em momento algum, negando o fato de que haja pessoas nos curso de licenciatura que o façam por vocação, muito menos que essas “coincidências” não venham a resultar num acaso vindouro, já que o estudante pode no fundo perceber que apesar do desejo frustrado de fazer medicina, sua vocação é realmente ser professor de biologia. - Ressalta-se, por outro lado, o caráter lógico-dedutivo, de que cursos de licenciatura que oferecem oportunidades de empregos com boa remuneração resultariam em classes de cursos superiores repletas de pessoas de suma excelência e não, como ocorre hoje, nesses cursos onde índices de desistência são altíssimos ou os discentes saem das faculdades e procuram outros empregos que lhes proporcionem uma remuneração melhor.


Não se deve culpar quem faz isto de covardia ou abandono profissional. Como dissemos mais acima, não devemos nunca perder o foco de que falamos de um pais que vive no e a partir do sistema capitalista. E, lugar-comum a parte, “amor não enche a barriga de ninguém”. O amor aqui deve ser entendido como amor a profissão, que muitos possuem, mas poucos conseguem conciliá-lo com a situação financeira. Daí, voltamos ao início do texto. O professor pobre que realiza façanhas em sala de aula, pode comover pessoas na ficção (mesmo que sejam baseados em fatos reais) são momentos raros e nunca, no mundo capitalista a exceção é premiada. Por isso, afirmamos que esse discurso, evocado pelos pedagogos, torna-se retórica para vender livros. O problema real, concreto, é sempre abafado. Não faz parte do trabalho dos pedagogos lutar para que os professores passem a ostentar salários dignos. Não faria parte de sua incumbência ou será que é mais simples ficar ditando regras e normas para que a educação melhore?


Como um professor muitas vezes trabalha os três turnos (manhã, tarde e noite) pode ler livros pedagógicos para melhorar sua prática em sala de aula? Tem-se por raciocínio o seguinte: se o professor não lê a educação não melhora, logo não melhora por culpa do professor. Simples assim, não? Não! O pouco tempo de que dispõe gasta preenchendo pilhas de cadernetas e corrigindo provas, o que sobra (se é que sobra) dedica-se a outras atividades como família e outros afazeres. Alguns livros pedagógicos até citam essa problemática, porém quando o fazem as frases vêm sempre acompanhadas de outras que ratificam a acomodação dos docentes são elas: “... mas nós não podemos ficar esperando que esse problema (a remuneração) se resolva”; “... o professor que fica de braços cruzados culpando o seu salário foge de sua obrigação”. Paulo Freire em seu livro “Pedagogia do Oprimido”, afirma que “o opressor não libertará o oprimido” (pg. 26). Esquecem-se os pedagogos, que não lêem a obra freiriana como o próprio autor queria “com um pé na realidade”, que como o professor poderia professar o discurso de que educação é algo bom, quando ele próprio não consegue viver de educação? Essa contradição é pedra angular no fracasso do discurso docente. Outros dizem que mesmo que aumentássemos o salário dos professores nada mudaria. Ora, faça-o primeiro e em seguida vejamos se corrobora. Dizer que a educação não melhorara com um aumento salarial é desculpa política (e que infelizmente alguns pedagogos acabam por cair) para não investirem em educação. Se há dúvida, passemos da teoria para a prática. Pois, um professor que tem uma única turma, portanto, digamos, trabalha dois dias na semana, fica com três dias livres, poderia sim, ser cobrado por qualquer entidade caso não exercesse bem sua função, mas primeiro é necessário passar do plano ficcional para o real, do abstrato, para, concreto.


O sistema educacional dá maneira como se encontra não pode proporcionar isso ao professor. Enquanto as escolas particulares forem o ensino de suma excelência e a escola pública for o passatempo de jovens marginalizados que procuram a merenda para saciar a fome, o professor não poderá receber um salário digno, visto que a escola particular opera dentro da mais-valia, ou seja, os donos das instituições ficam com grande parte dos lucros e os professores, mão-de-obra, recebem parte ínfima desse montante. O sistema particular é mediado pelo código do consumidor, e não se pode fazer educação de verdade quando quem tem dinheiro manda, ou seja, o aluno, os pais. O professor é um reles empregado, não pode falar ao mesmo nível, nem projetar, novamente citando Freire, “uma situação dialógica nem dialética”. A interação anula-se, pois professor é subordinado ao aluno que paga pelo benefício da aprovação. Na escola pública, não há capital envolvido (não do ponto de vista da relação educador-educando). O aluno não paga para estudar, apenas estuda. Vê naquele diante de si, uma referência, uma figura financeiramente atraente. Sim, falamos financeiramente, pois acreditamos que sendo o docente alguém de referência salarial, pode se contrapor a imagens distorcidas, no entanto atraentes desse ponto de vista, como jogadores de futebol, cantores..., as fadadas celebridades, que em nada contribuem para a educação de jovens e adultos, mas ganham salários exorbitantes, não possuem nenhum papel social concreto, a não ser ludibriar e distrair as massas dos problemas reais da sociedade em que vivem.


O professor precisa ser mais bem remunerado para que possa lutar contra essa “Matrix” criada pelo capital. Neste momento, alguém poderia nos perguntar: “Mas, enquanto isso não ocorre, não temos nada a fazer, há outras prioridades?” Essa é a prioridade. Depois tudo acontecerá em enfeito dominó. “E se não vier o aumento salarial?” Então, a educação permanece caótica como está. De um lado, os pedagogos escrevendo livros sobre como fazer o milagre da multiplicação da educação sem recursos financeiros. O professor continuará sendo refém da escola particular e da extensa jornada de trabalho. A ficção contará belíssimas histórias que comoverão platéias, mas que em nada melhorarão a educação.

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