domingo, 25 de abril de 2010

"OS DESENHOS ANIMADOS DE HOJE SÃO VIOLENTOS! NO MEU TEMPO NÃO ERA ASSIM!"

(Vagabond - Takehiko Inoue)

Ouço essa frase de pessoas próximas a mim, com uma freqüência terrível. Discordo dela e das pessoas que a proferem por um único motivo:


No Brasil, desenho é coisa para criança.

Essa afirmação é enbasada na própria maneira como os desenhos animados chegaram ao país. Nossa maneira de lembrar dos desenhos de nossa infância é através dos programas matutinos como Xou da Xuxa, Clube da Criança, Bozo, ShowMaravilha, Casa da Angêlica e, recentemente, Bom Dia e Cia (deixei alguns nomes de fora para evitar redundância!), que seguiam o mesmo formato: uma belíssima apresentadora em trajes sexys que dividiam o palco com outras figuras caricatas, cercado por crianças, estas submetidas à bricadeiras e nos intervalos passavam-se desenhos como mais uma alternativa de diversão para as crianças que assistiam em casa.

Veja alguns programas infantis do SBT



Portanto, para nós, brasileirinhos que crescemos vendo esses programas infantis, quase sempre diurnos, aprendemos que os desenhos eram feitos para as crianças com o intuito de alegrar as crianças.

Desenhos dos anos 80:



E foi assim até o final dos anos 90 e início do ano 2000 quando surgiu...



Sim, senhor, Os Cavaleeeeeeiros do Zodíacoooooooo, com eco de tudo! Que trouxe de vez, creio eu, o anime e mangá de forma concreta para o Brasil. Lembro-me que ele passa à noite na finada Rede Manchete, foi um fenômeno e tanto. Após vieram outros e mais outros e mais... Mangás começaram a ser publicados, eventos pipocaram em todo o país, mas o precoceito continua, frases como essas que ilustram nosso título ainda são audíveis. Isso mostra que não se conhece muito do mercado japonês.

O mais básico a se dizer é o óbvio. Trata-se do mercado japonês, logo os mangás e animes foram criados para eles e seu público não para nós. Por isso, devemos olhar para o seu modo de ver as histórias em quadrinhos, para percebermos serem muito mais do que simples "desenhos com olhos grandes".

Primeiro precisamos compreender o seguinte: enquanto nós ainda estamos discutindo se os quadrinhos são uma forma de literatura, os japoneses já têm certeza disso. Segundo, que o mangá (para falarmos do quadrinho japonês) contempla todos nos ninchos sociais: sejam crianças, adolescentes, adultos, ou mais especificamente donas de casa, mecânicos, esportistas, cozinheiros... há mangás para todos os gêneros, as idades e classes sociais, ou seja, no japão, TODOS consomem mangá. Terceiro, portanto, não existem mangás violentos, mas sim, shonen, shojo, hentai, yaoi, seinen...

Tradução?

Shonen são mangás feitos para Garotos como Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Naruto, Bleach, Death Note...;

(Dragon Ball - Akira Toriyama)


(Cavaleiros do Zodíaco - Masami Kurumada)



(Naruto - Masashi Kishimito)



(Bleach - Tite Kubo)



(Death Note - Takeshi Obata)

Shojo, são dedicados as garotos, mangás mais leves, como Sakura Card Captors, Guerreiras Mágicas de Rayearth, Kare Kano, Fruits Basket, Nana...


(Sakura Card Captors - CLAMP)


(As Guerreiras Mágicas de Rayearth - CLAMP)


(Kare Kano - Masami Tsuda)


(Fruits Basket - Natsuki Takaya)


(Nana - Ai Yazawa)

Hentai são mangá eróticos (sim! Os japoneses também pensam naquilo!):

(Darkstalkers - Morgana - Artista desconhecido)

Yaoi também são considerados eróticos, mas direcionados ao público feminino:


Os seinen são mangás para adultos, com cenas de sexo e violência extremadas:

(Gantz - Hiroya Oku)
Há outros gêneros, claro que há, mas coloquei estes para que o público leitor deste blogger possa respeitar e parar de culpar os desenhos pela sua violência. Se a mídia brasileira estivesse realmente preocupada com o teor de violência que nossas crianças estão a assistir. Não permitiriam (como os japoneses não permintem) que animes passassem em horários inadequados.
Outro problema, advém da confiabilidade que país tem na televisão. É crível como a geração que assistiu aos desenhos como "Capitão Caverna", "Smurfs", "Jonnhy Quest"... passe diante da tevê ligada veja seu filho que possui uma idade inapropriada para ver aquela animação e passe pelo mesmo faça cara feia, dirigi-se ao quarto onde encontra-se o cônjuge para dizer-lhe com ar superior: "Esses desenhos de hoje são violêntos demais, na minha época não era assim!" É a velha "síndrome do esperto" que assola o nosso país. Viver glorificando o passado e acusando o presente de possuir as mazelas é bancar de esperto diante da nova geração - traduza-se, nas terras tupiniquis, esperto por idiota. Em vez que solicitar que a nosso televisão passe aqueles desenhos em outros horários ou (não sejamos puritanos) pedir que não passem aqueles desenhos, já que cabe aos profissionais da televisão perceber que há um público que não é composto por meninos e meninas que usam fralda, mas de adolescentes e adultos fãs realmente e, nada custa, informar-lhes que devido a inadequação do horário sua atração passará a tal hora à noite.
Mas, não. Estamos falando do Brasil, a terra dos espertos. Se está dando mais audiência os tais desenhos de olhos grandes violentos, é melhor que continue assim. Danem-se a ética e o respeito ao próximo.

E só para esquentar ainda mais o nosso debate. Vamos discutir o caso dos cinemas? Quem percebeu que de uns tempos para cá, os cinemas passaram a adotar anúncios em seus cartazes que dizem a idade recomendada para assistir ao filme? No entanto, se eu, enquanto pai vou bater boca com o pessoal do guiché para que meu filho de oito anos assista a um filme classificado para dezoito, ora estou dizendo diante de todos que assumo toda a responsabilidade, certo?

Outro caso a se comentar é o da própria televisão que em muitos horários inadequados passa certas atrações disfarçadas de telejornalismo como - falo das atrações da tevê pernambucanca - Bronca Pesada ou Ronda Geral. Ou seja, no horário de almoço, quando algumas famílias estão em casa para, vemos morte, morte e mais morte... Os telejornais da tarde? Que com o falso compromisso de transmitir a verdade doa em quem doer: colocam imagens fortes de violência real para nosso deleite taciturnio.

E ai? Como fica? Por que apenas o jornal é classificado como para adultos? Os adultos estão trabalhando, presos a enormes jornadas de trabalho. Quem absorve essa poluição visão são as crianças, pois no Brasil 80% (essa porcentagem se justifica por mim, pois como professor vejo que os horários da manhã estão lotados, enquanto à tarde alguns colégios sofrem para fechar uma urma) estudantes cursam o período da manhã e estão em casa para assistir a "grande programação educativa da televisão brasileira" que dentre as grandes atrações possui MALHAÇÃO, ou traduzido por COMO APRENDER A FAZER SEXO NA TEVÊ.

Por tanto, antes de acharmos tão facilmente um culpado no universo mangá. O melhor seria observarmos melhor e compreendê-lo para não sairmos julgando sem saber. E olharmos a nossa volta para percebemos que no lugar das conseqüências antes devemos procurar as causas reais e concretas.

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